Somos mais sedutores vestidos ou despidos?
A produção define-o como reverse dating e funciona assim:
A cada participante são apresentados 6 candidatos nus que vão sendo eliminados à vez.
Os corpos são exibidos gradualmente. Os atributos físicos vão sendo comentados sem pudores.
Primeiro mostra-se tudo da cintura para baixo. Depois até ao pescoço e por fim, aparece a cara.
O processo de eliminação vai acontecendo até ficarem dois candidatos.
Nesse momento, o participante também surge despido e faz a sua escolha final.
No dia seguinte têm um encontro vestidos. O objectivo é conhecerem-se melhor e quem sabe, apaixonarem-se.
Decidi investigar mais e encontrei uma entrevista de Pedro Boucherie Mendes à NIT que data de 2018.
Quando questionado sobre a possibilidade de fazer uma versão portuguesa, Boucherie Mendes comentou: “Penso que tenha uma premissa muito engraçada e surpreendente. Gosto muito da televisão inglesa. Conseguem sempre desarmadilhar estas questões pudicas com humor. É divertido que os concorrentes discutam o corpo de uma pessoa como compram um carro ou como escolhem um hotel para passarem uma noite. E têm de adivinhar através dos piercings ou tatuagens que tipo de pessoa é que é, porque não conseguem pelo estilo. Acho que tem uma lição: julgar as pessoas pelo aspeto exterior nem sempre corre bem.”
Concordo e não concordo com a última frase. Julgar as pessoas apenas pelo corpo, corre muito pior.
Não me parece nada divertido comentar os atributos físicos dos outros como quem comenta um objecto. Tentar identificar características de personalidade em piercings ou tatuagens reforça a minha visão - a roupa codifica a personalidade e sem ela, um corpo nu vale pouco no jogo do amor.
Dissociar a roupa do corpo quando se fala em atração, fará sentido? Na minha opinião, não faz.
Nudez à parte, o simbolismo do vestuário ajuda-nos a percepcionar o outro. Sentimos se nos agrada ou não.
Encontrar pontos em comum através dos códigos visuais pode aproximar ou repelir.
O que confirmo na segunda parte deste programa, no momento do encontro, é que os atributos físicos passam para segundo plano.
Além da componente visual, entra depois o que realmente interessa - a personalidade, os interesses, a forma de ver a vida e claro, a química. Há vários elementos em jogo.
Um corpo vestido pode ser muito mais sedutor do que a nudez explicita. Concorda?
Olhando para a história do traje, a forma como as pessoas se adornaram, taparam e destaparam, dá-nos pistas visuais sobre o conceito de atração.
O historiador James Laver fala sobre as zonas erógenas na obra mítica “Costume and fashion: a precise history”. Mostra como a roupa destaca determinadas partes do corpo, de acordo com o gosto dos tempos.
Linda Grant disserta sobre roupa, auto-expressão e sedução num dos meus livros preferidos de sempre “A Arte de Vestir - o que a roupa diz sobre nós.”
Também a consultoria de imagem foi criada com base numa série de orientações visuais que prometem trazer mais harmonia à silhueta.
Estudar tudo isto, questionar as regras e observar criticamente a nossa relação com o corpo e com o vestir é interessantíssimo.
Se também adora o assunto e gostaria de aprofundá-lo, o curso de Consultoria de Imagem da Blossom pode ser a proposta ideal. Descubra-o aqui.
Até breve e boa semana,
Dora Dias