Somos mais sedutores vestidos ou despidos?

Olá!

No final da semana passada, a meio de um zapping, voltei a cruzar-me com um programa de teor duvidoso que já tinha visto há uns anos.

Para lhe ser sincera, para mim, é bem mais do que duvidoso. É péssimo mas, desta vez deixou-me a pensar.

“Naked attraction” cabe na categoria de dating show. É britânico e foi criado em 2016. É transmitido pela Sic Radical desde 2018.

Provavelmente também já o viu.

A produção define-o como reverse dating e funciona assim: 

  • A cada participante são apresentados 6 candidatos nus que vão sendo eliminados à vez.

  • Os corpos são exibidos gradualmente. Os atributos físicos vão sendo comentados sem pudores. 

  • Primeiro mostra-se tudo da cintura para baixo. Depois até ao pescoço e por fim, aparece a cara.

  • O processo de eliminação vai acontecendo até ficarem dois candidatos. 

  • Nesse momento, o participante também surge despido e faz a sua escolha final. 

  • No dia seguinte têm um encontro vestidos. O objectivo é conhecerem-se melhor e quem sabe, apaixonarem-se.

Desculpe o spoiler mas, na maioria dos casos, não acontece. 

Voltam ao estúdio 3 semanas depois para contar como correu. 

A produção do programa vende-o assim:

“Símbolos de status, perfis em dating apps e as roupas que usamos podem atrapalhar o encontro com a nossa cara-metade… mas o que aconteceria se nos despíssemos de tudo o que nos define?”

Decidi investigar mais e encontrei uma entrevista de Pedro Boucherie Mendes à NIT que data de 2018. 

Quando questionado sobre a possibilidade de fazer uma versão portuguesa, Boucherie Mendes comentou: “Penso que tenha uma premissa muito engraçada e surpreendente. Gosto muito da televisão inglesa. Conseguem sempre desarmadilhar estas questões pudicas com humor. É divertido que os concorrentes discutam o corpo de uma pessoa como compram um carro ou como escolhem um hotel para passarem uma noite. E têm de adivinhar através dos piercings ou tatuagens que tipo de pessoa é que é, porque não conseguem pelo estilo. Acho que tem uma lição: julgar as pessoas pelo aspeto exterior nem sempre corre bem.”

Concordo e não concordo com a última frase. Julgar as pessoas apenas pelo corpo, corre muito pior.

Não me parece nada divertido comentar os atributos físicos dos outros como quem comenta um objecto. Tentar identificar características de personalidade em piercings ou tatuagens reforça a minha visão - a roupa codifica a personalidade e sem ela, um corpo nu vale pouco no jogo do amor. 

Dissociar a roupa do corpo quando se fala em atração, fará sentido? Na minha opinião, não faz.

É isso que se confirma de episódio em episódio. Num deles, uma das candidatas repete: “Isto pode correr bem se puder ser eu a cuidar do guarda-roupa dele. Tem de mudar.”

Adivinha como acabou? Mal.

Noutro episódio, quando o candidato escolhido apareceu com a sua roupa, percebeu-se pela expressão de horror no rosto do outro que a história ia morrer ali. E morreu.

Nudez à parte, o simbolismo do vestuário ajuda-nos a percepcionar o outro. Sentimos se nos agrada ou não. 

Encontrar pontos em comum através dos códigos visuais pode aproximar ou repelir. 

O que confirmo na segunda parte deste programa, no momento do encontro, é que os atributos físicos passam para segundo plano.

Além da componente visual, entra depois o que realmente interessa - a personalidade, os interesses, a forma de ver a vida e claro, a química. Há vários elementos em jogo.

Um corpo vestido pode ser muito mais sedutor do que a nudez explicita. Concorda?

Olhando para a história do traje, a forma como as pessoas se adornaram, taparam e destaparam, dá-nos pistas visuais sobre o conceito de atração. 

O historiador James Laver fala sobre as zonas erógenas na obra mítica “Costume and fashion: a precise history”. Mostra como a roupa destaca determinadas partes do corpo, de acordo com o gosto dos tempos. 

Linda Grant disserta sobre roupa, auto-expressão e sedução num dos meus livros preferidos de sempre “A Arte de Vestir - o que a roupa diz sobre nós.” 

Também a consultoria de imagem foi criada com base numa série de orientações visuais que prometem trazer mais harmonia à silhueta.

Qual é o objectivo aproximar o corpo do padrão de beleza?

Não será também atrair o outro? Ser aceite em diversos contextos? 

E essa aceitação? O que pode trazer-nos? 

Concordo com Boucherie Mendes quando diz que “julgar pelo exterior nem sempre corre bem”

É claro que somos muito mais do que aquilo que vestimos. Seria uma grande pretensão considerar que sabemos quem é o outro apenas pelo exterior. 

Há sempre imensas perspectivas que podemos pôr em discussão quando falamos sobre roupa, identidade, moda e comunicação.

Estudar tudo isto, questionar as regras e observar criticamente a nossa relação com o corpo e com o vestir é interessantíssimo. 

Se também adora o assunto e gostaria de aprofundá-lo, o curso de Consultoria de Imagem da Blossom pode ser a proposta ideal. Descubra-o aqui.

Até breve e boa semana,

Dora Dias

Dora Dias

Fundei a Blossom Image Consulting em 2009, uma das pioneiras na área da consultoria de imagem em Portugal.

Além de ser consultora de imagem para clientes particulares e corporativos, formo profissionais nesta área através de cursos da Blossom que têm diferentes níveis de especialização e uma abordagem multidisciplinar.

A MINHA VISÃO

Defendo que ajudar os outros na descoberta e afirmação do seu estilo pessoal é um processo que deve contemplar uma multiplicidade de abordagens, excluindo rótulos, regras e teorias pré-definidas. Por acreditar que “cada pessoa é um mundo*”, procuro compreender incessantemente a relação dos clientes com a sua imagem e as várias camadas que compõem o universo estético individual.

Partilhar a experiência profissional dos últimos 20 é um dos meus grandes prazeres e continuo a acreditar que o mundo é um lugar fascinante quando criamos harmonia à nossa volta e nos interessamos genuinamente uns pelos outros.

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